A cólera de agradar a todos, menos a si mesmo



Arrume um bom emprego. Isso é coisa de sujeito de honra, aconselhou-me dona Marta.
Mas não é qualquer emprego. Você precisa ter PELO MENOS uns cinco mil paus no bolso por mês, disse-me José.
Não basta emprego e dinheiro. Tenha triunfo. Se destaque entre os demais, falou-me Antônio.
Consiga comprar seu carro e seu apartamento para que todos vejam que você está vencendo na vida. Saia do subúrbio. Vá para um bairro nobre, silvou Renato.

E agora aí está você, com filhos sem tempo e "bem-sucedidos" como você era remotamente. Filhos que te deram netos que nesse momento estão brincando na piscina, e eles, tão ocupados em provarem que têm êxito na vida, não estão aí para ver. Você possui tudo o que um homem bem-sucedido precisa. Eu iria lhe dar parabéns, mas você também possui o incômodo... Ah, o incômodo. O incômodo por ter vivido à margem da sociedade, não é? Sociedade e suas recomendações estúpidas.
Você seguiu a cartilha direitinho, mas já tem quase sessenta e seus ombros doem. Não fica em pé por mais de vinte minutos porque os joelhos pesam. Sociedade e seus conselhos que antes pareciam tão sensatos, e hoje você os enxerga como destrutivos e coléricos.
Por que ninguém lhe aconselhou a tomar sorvete na praia em um final de semana ensolarado com a namorada? Hoje ela é sua esposa e vocês mal trocam duas palavras. Tudo esfriou e você se pergunta o porquê. É porque você trocou beijos de cinema por horas dobradas em um emprego que não te fazia feliz só para ser o tão dito cidadão de prestígio que todo mundo dizia para você ser. Trocou todo o acompanhamento da gestação dos seus filhos em busca de mais e mais poder. Trocou até sua lua de mel por uma viagem de negócios. Trocou festas de aniversário e natais por cargas de trabalho pesadas para ter o carro do ano (porque ter o carro do ano passado não basta para provar que é bem-sucedido).
Por que ninguém lhe aconselhou a trocar as fraldas dos seus filhos e niná-los em vez de virar noites mexendo em computadores e fazendo relatórios? Você trocou as comemorações de bodas de papel, prata e todas os tipos de bodas em jantares e viagens à sós por noites inteiras de "ligações importantes" com "pessoas importantes". Hoje, além das doenças que a ganância te deu, os únicos motivos que te fazem sair de casa são consultas médicas e velórios e enterros das pessoas que antes você julgava importantes socialmente. Você deveria estar honrado por tudo que possuiu e possui, mas a essa altura, já se deu conta que ambição é coisa perigosa.
Aos seus quase sessenta anos, seu conceito de bem-sucedido mudou, sua ambição não tem nada a ver com capital e sua felicidade está no ralo, pois você preferiu ouvir a maioria a vida inteira. A maioria nunca está certa. Você é o maior e melhor exemplo para a maioria das pessoas. Menos para você mesmo.

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